DOCÊNCIA REFLEXIVA PARA UMA EDUCAÇÃO EMANCIPATÓRIA – o
uso de Tecnologias de Informação e Comunicação na prática docente.
Patrícia
Nunes de Paula
RESUMO
O presente estudo pretende abordar a necessidade de
uma efetiva prática reflexiva por parte dos docentes quando do processo pedagógico,
a fim de que a Educação se dê em sua forma emancipatória. E, nesta perspectiva,
considerando que para uma postura reflexiva faz-se necessário apoderar-se de
seu tempo histórico, o docente deve apropriar-se das Tecnologias de Informação
e Comunicação – TIC´s para atender a demanda de alunos que se encontram cada
vez mais conectados.
Palavras-chave: Docência reflexiva, tecnologias de informação e comunicação,
prática emancipatória.
1- INTRODUÇÃO
No decorrer da história da educação, neste século, a
questão da “prática docente” sofreu uma evolução, saindo da visão tradicional,
que se apoiava exclusivamente na
experiência prática dos professores para uma visão que prioriza a importância da
prática
reflexiva.
Na visão tradicional da prática educativa, o
conhecimento profissional do professor nascia subordinado aos interesses
sócio-econômicos da época, carregado da ideologia das classes dominantes,
fazendo da prática docente um exercício da manutenção e transmissão do status quo.
Na Educação, em sua dimensão mediadora, a atividade
docente é vista como carregada de saberes específicos que devem ser mobilizados,
utilizados e produzidos pelos docentes em suas tarefas cotidianas, numa
perspectiva reflexiva sobre sua prática, possibilitando a mediação entre o
educando e suas descobertas e intervenções sobre a sua realidade.
O reconhecimento da necessidade de exercer as
atividades educativas dentro da realidade em que se insere, e, estando a sociedade
cada vez mais tecnológica, faz-se necessário a conscientização da necessidade
de incluir nos currículos escolares as habilidades e competências para lidar
com as novas tecnologias. Nessa sociedade do conhecimento, a educação exige uma
abordagem diferente, as novas tecnologias e o aumento exponencial da informação
levam a uma nova organização de trabalho, em que se faz necessário: a
imprescindível especialização dos saberes; a colaboração transdisciplinar e
interdisciplinar; o fácil acesso à informação e a consideração do conhecimento
como um valor precioso, de utilidade na vida econômica.
Sob este aspecto, pretende o presente estudo, abordar
a necessidade da absorção e utilização das TIC´s pelo professor em sua prática docente,
a fim de possibilitar uma educação emancipatória, dentro de uma perspectiva reflexiva.
2- DESENVOLVIMENTO
Assim como as demais profissões da atualidade, também
a atividade docente deve se caracterizar por ações práticas realizadas de forma
eficaz e pelo domínio de suas regras e saberes. Em Educação, entretanto, estas
regras não podem ser fixas, sendo necessário um permanente processo de reflexão
dos docentes diante de suas ações, visto que o processo educacional para
emancipar deve ser dinâmico e dialético.
A docência e sua prática esta associada a várias
funções desempenhadas em sala de aula e no ambiente escolar, que vão desde o
atendimento individual a cada aluno, preparação das aulas, realização de
avaliações, organização do tempo escolar, elaboração de trabalhos coletivos com
outros colegas até o relacionamento no espaço de sala de aula, diálogos com os
educandos e com a comunidade escolar.
Ou seja, a prática docente não se restringe às
técnicas e filosofias de trabalho, mas extrapola para o difícil campo dos
relacionamentos interpessoais, numa constante troca de experiências, onde
aprender e ensinar possui uma tênue linha, onde o processo é dinâmico e dialético. A prática docente sofre influências de
variáveis como contextos históricos, políticos, econômicos, sociais, culturais
e que interferem na sua atuação, desta forma, em sua trajetória profissional,
os docentes acumulam saberes e produzem novos saberes, ou seja, “as estratégias de ensino que empregam em
sala de aula encarnam teorias práticas sobre o modo de entender os valores
educacionais” (ZEICHNER, 1993, P.21).
A prática docente é, portanto, resultado de uma ou
outra teoria, seja reconhecida ou não, devendo, entretanto, o docente conceber
uma prática mais reflexiva, através de uma análise crítica e aberta às discussões,
ampliando seus saberes na e da profissão.
A universidade, sendo uma local de pesquisa por excelência,
deve questionar sua responsabilidade em desenvolver competências profissionais
capazes de formar professores para a prática reflexiva. Perrenoud (in PAQUAY, 1999) afirma que a universidade não pode só pelo fato de
ela iniciar o futuro profissional nas pesquisas, pretender formar profissionais
reflexivos. Caso venha a fazê-lo, deve desenvolver em seus cursos e disciplinas
dispositivos específicos, tais como: análise de práticas, estudo de casos,
técnicas de auto-observação e de esclarecimento, treinamento para o trabalho
sobre o próprio habitus e sobre seu
inconsciente profissional.
Dentro desta perspectiva, o professor precisa saber
orientar os educandos sobre onde colher informação, como tratá-la e como
utilizá-la. Esse educador será o encaminhador da autopromoção e o conselheiro
da aprendizagem dos alunos, ora estimulando o trabalho individual, ora apoiando
o trabalho de grupos reunidos por área de interesses.
A qualidade da educação, geralmente centradas nas
inovações curriculares e didáticas, não pode se colocar à margem dos recursos
disponíveis para levar adiante as reformas e inovações em matéria educativa,
nem das formas de gestão que possibilitam sua implantação. A incorporação das
novas tecnologias é um elemento que pode contribuir para uma maior vinculação
entre os contextos de ensino e as culturas que se desenvolvem fora do âmbito
escolar, possibilitando, desta forma, uma educação efetivamente emancipatória.
Perrenoud (1999) admite que a prática reflexiva deva
estar aliada à participação crítica e à profissionalização docente. Para ele,
estas são orientações prioritárias para a formação docente, pois “vão além do “saber fazer” profissional de base,
mas supõem sua aquisição prévia “(p.8), isto é, exigem “competências”. Perrenoud é incisivo ao
afirmar que esse paradigma “profissionalização,
prática reflexiva e participação crítica não corresponde nem à identidade ou
ideal da maioria dos professores em função, nem ao projeto ou à vocação da
maioria daqueles que se dirigem para o ensino” (p.8). Diante desta colocação,
sugere basear a prática reflexiva sobre “dez competências profissionais:
“1-
Organizar e animar situações de aprendizagem;
2- Gerir
o progresso das aprendizagens;
3-
Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação;
4-
Envolver os alunos nas suas aprendizagens e no seu trabalho;
5-
Trabalhar em equipe;
6-
Participar da gestão da escola;
7-
Informar e envolver a comunidade escolar;
8-
Servir-se de novas tecnologias;
9 –
Enfrentar os deveres e dilemas éticos da profissão;
10-
Gerir sua própria formação continua “(PERRENOUD, 1999, P.8) – grifo nosso
Assim, a prática reflexiva e a participação crítica
são “fios
condutores do conjunto de formação, das atitudes que deveriam ser adotadas,
visadas e desenvolvidas pelo conjunto dos formadores e das unidades de formação,
segundo diversas modalidades” (p.10). E , uma das competências
elencadas como necessárias à uma efetiva prática docente reflexiva está o uso
de novas tecnologias , assim, a prática docente enfrenta o desafio não apenas
de incorporar as novas tecnologias , mas também reconhecer e partir das concepções
que os discentes têm sobre estas tecnologias para elaborar, desenvolver e
avaliar práticas pedagógicas que promovam o desenvolvimento de uma disposição
reflexiva sobre os conhecimentos e os usos tecnológicos.
3- CONCLUSÃO
A sociedade atual passa por profundas mudanças
caracterizadas por uma profunda valorização da informação. Na chamada Sociedade
da Informação, processos de aquisição do conhecimento assumem um papel de
destaque e passam a exigir um profissional crítico, criativo, com capacidade de
pensar, de aprender a aprender, de trabalhar em grupo e de se conhecer como indivíduo.
Dentro desta nova ótica global, faz-se necessário
para que a Educação se dê em sua dimensão emancipatória, que ela se redefina em
suas funções, forma de organização e valores , a fim de que enfrente os
desafios que as transformações tecnológicas exigem , dando condições aos
educandos de se apropriarem dessa nova realidade em que se inserem.
Assim, ensina DOWBOR (in Tecnologias do Conhecimento, 2005):
“Juntando
as duas grandes transformações, do universo do conhecimento e das ferramentas
de trabalho, fica bastante óbvio que uma área como a educação tem de repensar
os seus paradigmas. Não se trata de um pouco de cosmética, trata-se de uma
reforma em profundidade. (...) Na medida em que o conhecimento se torna
gradualmente a matéria-prima privilegiada de todas as áreas de atividade, e que
surgem novos espaços como a formação nas empresas, televisões, Internet e outros,
crescem o papel da área especializada em conhecimentos que é a educação, como
possível articuladora dos diversos subsistemas. O que não é mais possível é
ver a educação como universo isolado, ou ver a educação sem compreender as suas
complementaridades com outros espaços do conhecimento” (p.78) – grifo nosso
O maior desafio para que a Educação se dê de forma
emancipatória dos sujeitos do processo é que a prática docente se realize de
forma reflexiva, num contexto histórico, dinâmico e dialético que não pode ser desprezado,
apropriando-se das novas tecnologias de informação e conhecimento (TIC´s) como
instrumentos essenciais ao processo educativo dentro da nova Sociedade de Informação,
onde educação e informação são as novas formas de poder.
Cabe a educação formar esse profissional e para isso,
esta não se sustenta apenas na instrução que o professor passa ao aluno, mas na
construção do conhecimento pelo aluno e no desenvolvimento de novas
competências, como: capacidade de inovar, criar o novo a partir do conhecido,
adaptabilidade ao novo, criatividade, autonomia e comunicação.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
DOWBOR, Ladislau. Tecnologias do Conhecimento. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.
FREIRE, Paulo. Pedagogia
da autonomia:saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra,
1996.
PERRENOULD, P. Formando
professores em contextos sociais em mudança: prática reflexiva e participação
crítica. Revista Brasileira de Educação,
n.12, set/dez.1999.
ZEICHNER, K. A formação
reflexiva de professores: idéias e práticas. Lisboa: EDUCA/Professores,1993.
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